quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A violência como solução

Sergio U. Dani, de Heidelberg, Alemanha, em 03 de outubro de 2012.

No Brasil, nós matamos nossos semelhantes em grande quantidade. Matamos o equivalente a um massacre do Carandiru por dia. Por hora, são cerca de 5 homicídios. Por ano, quase 50 mil, por década meio milhão, pior que qualquer conflito armado em qualquer outra parte do mundo atual. Nas três últimas décadas, matamos cerca de 2 milhões, a maioria jovens entre 15 e 25 anos de idade. Nesse ritmo, em mais algumas décadas teremos batido o recorde do Holocausto.

Nas escolas, nas igrejas e nos progamas de rádio e TV nos fazem acreditar que “violência gera violência”. Mas não nos ensinam o que é a violência, o que ela significa, e muito menos nos ensinam qual é a sua finalidade social. Na falta de professores, padres ou locutores de rádio e TV mais ilustrados, recorro ao pugilista Wilson Maguila. Perguntado por um entrevistador se o esporte que ele praticava era violento, Maguila respondeu que não, que numa luta de boxers, os oponentes são igualmente preparados, têm o mesmo peso e a mesma força e obedecem às mesmas regras.

A definição do Maguila é genial: “a violência só existe quando há desequilíbrio de peso e força e desrespeito às regras de convívio”. No Brasil do “manda quem pode, obedece quem tem juízo” e do “sabe com quem você está falando?”, os desequilíbrios de peso e força e o desrespeito às regras de convívio são evidentes, essas se constituem na verdadeira origem da nossa violência.

Agora resta entender qual seja a finalidade da violência. Esta é a questão mais sutil. Finalidade tem a ver com o fim, o destino ou destinatário. Quem é o destinatário da violência no Brasil e em outras partes do mundo? No Brasil, o destinatário da violência é a parte mais fraca. De Tiradentes a Canudos, do golpe militar ao massacre do Carandiru, de Paracatu a Belo Monte, por onde se olha se vê o mesmo padrão da violência do mais forte contra o mais fraco.

A sociedade brasileira não conhece outro tipo de violência, não aceita e não pratica outro tipo de violência, aquela dos mais fracos contra os mais fortes. Às imagens de um Mussolini enforcado ou de um Coronel Gadafi executado, mostramos as imagens do nosso Tiradentes enforcado, dos nossos cangaceiros degolados. A “violência à brasileira” escolheu como lema: “quem se mete a redentor, acaba crucificado”.

Essa violência brasileira é burra e ineficaz, ela não cumpre o importante papel social que a violência tem, aquele de equilibrar a sociedade, tornando-a mais humana, livre e justa. Se cada um dos cerca de 50 mil homicidas anuais dirigissem sua sagrada violência contra os grandes exploradores, enganadores, desperdiçadores, negligentes, tiranos, genocidas e corruptos, teríamos um país mais justo, livre e solidário.

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