domingo, 14 de maio de 2017

As confissões

Por Solano Neiva, publicado no Facebook em 14.05.2017

Sem querer me deixar levar pelas edições dos grandes veículos de comunicação, tive a paciência de assistir grande parte dos trechos gravados e liberados pelo STF das confissões de João Santana e Monica Moura. São depoimentos duros, detalhados, esmiuçados, revelam toda a engrenagem das campanhas e a intimidade do casal com os dois presidentes que elegeram. 

Nos depoimentos salta a figura de Monica Moura como uma operadora destemida, capaz de trafegar pela violenta cidade de São Paulo de taxi a luz do dia com pacotes de 200/300 mil reais, sem nenhuma cobertura, por anos a fio. Que resolvia detalhes da vida pessoal da Presidenta e fazia a coisa toda funcionar, uma verdadeira máquina de conexão do dinheiro quente, frio, Brasil, Suíça, Odebrecht, Partidos, Ministros e Candidatos. Um centro nervoso do sistema, uma personagem digna de Dostóievski. 

João Santana emerge das sombras com um poder de influência de Primeiro Ministro ao lado dos Presidentes, com quem mantinha um relacionamento tão estreito, que às vezes dá a impressão de estarmos ouvindo a confissão de um coaching ou um psicólogo, para não dizer do Psiquiatra de Loucos e do mandatário de fato. Um grão-vizir do Imperador.

Neste longo capítulo de loucuras e desatinos revelados pela Operação Lavajato, os dois personagens que foram figuras decisivas de 3 eleições presidenciais no Brasil, que colaboraram no sentido de planejar ações do governo, escreveram discursos e mantiveram os dois presidentes sob estrito relacionamento confidencial, se tornaram no meu modesto entendimento, para sempre protagonistas de nossa história política do século XXI. 

A figura do marketeiro político assume aqui uma dimensão sem precedentes, e ao lado de Marcelo Odebrecht e outros, foram de fato "os donos do poder" numa das maiores economias e democracia do mundo - o Brasil. Deles serão escritos livros, farão filmes e séries e escreverão teses, pois os crimes caso comprovados, foram de proporções que ultrapassam qualquer parâmetro histórico já visto em qualquer país em tempos de paz e funcionando no Estado Democrático de Direito.

O genial Machiavel é um mero conselheiro e grande escritor comparado a isto. Um observador e intérprete atento e talentoso da história. Aqui neste caso assistimos de fato nas gravações, os que fizeram a história, que transformaram uma mulher despreparada e sem talento em presidente 2 vezes e antes disso reelegeram um presidente mergulhado num escândalo sem precedentes - infelizmente a nossa história recente do Brasil. Estamos pagando o preço com muito sofrimento.

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